A Terra acolhe o Vento, formando Kuan, Contemplação










O Fio da Meada







Sexta Linha      ___  ___               O
Quinta Linha         ___  ___          I Ching
Quarta Linha                ___  ___               do
Terceira Linha       _______          Caminho
Segunda Linha      _______               do
           Primeira Linha    _______              Céu





Janine Milward





SEGUNDO VOLUME

Os Hexagramas compostos por K'un, a Terra,
a Mãe, o Receptivo, o Abranger, o Devocional, a Não-Luz, o Vazio
a Planície, o Povo



Editora Estrela do Belém




O Fio da Meada


 I Ching do Caminho do Céu

Janine Milward

Direitos Reservados © 1997
Registro 142.090 Livro 230 Folha 433
Segunda Edição Revisada






O Caminho do Céu
de K'un, a Terra, a Mãe, até Ch'ien, o Céu, o Pai
perpassando por todos os Filhos:


Nossa consciência é atada à Terra, a Mãe, K'un, o lugar onde estamos.  Nossa consciência em ampliação faz acontecer a Montanha, o Mestre, Ken, a Quietude, o homem que busca sua realização dentro de seu Caminho da Iluminação e da Imortalidade ou Liberação até se tornar Homem Sagrado.  A Terra e a Montanha realizam-se, enquanto Vida manifestada e encarnada, através a possibilidade de vida que é doada pela Água, K’an, a Água, que traz consigo a Sabedoria e vai buscando por todos os lugares. A vida manifestada é então não somente vivenciada pela terra, pela rocha e pela água mas também pela madeira, em Sun, o Vento, a Madeira, e esta vegetação é levada adiante pelo vento e eclode a vida, desabrocha a vida através Chen, o Trovão, o Incitar, que acaba trazendo o Fogo, Li, para a terra, ampliando a consciência do Homem que já se encontra entre o Céu e a Terra.  Esta expansão da consciência acontece através seu espelhamento permitido por Tui, O Lago, que espelha Ch'ien, o Céu, o Pai, o Criativo, o doador da vida infinitizada e iluminada à K'un, a Terra, o Receptivo.







Kuan, Contemplação

A Terra recebe a Montanha

Janine Milward



Kuan, Contemplação, Ser Contemplado

K’un, a Terra, A Devoção, O Vazio, O Abranger, O Receptivo, O Povo, O Reino, a Planície, encontra-se com Sun, O Vento, A Suavidade, O Penetrante, A Comunicação, A Filha mais Velha, e juntos formam o Hexagrama 20. Kuan, Contemplação.

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_______         Trigrama Visitante: Sun, O Vento, Trigrama Visitante
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___ ___          Trigrama Estruturador: K’un, A Terra, Trigrama Primordial
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O Caminho é eterno e não tem nome
É genuíno e embora pequeno
O mundo não tem coração de dominá-lo

Se reis e príncipes pudessem preservá-lo
Os dez mil seres iriam por si próprios obedecer.

Tao Te Ching, Capítulo 32, Lao Tsé


A imagem de Kuan, Contemplação, é a de uma torre ou de um templo.  O desenho das Linhas de Sun, O Vento, com suas duas Linhas Yang, forma o alto da torre ou do templo, e a Linha Yin une-se, no Hexagrama, com as outras Linhas Yin pertencentes à K’un, A Terra, A Devoção, O Povo.

A torre, ou o templo, é o lugar onde se preserva o Caminho.

Se reis e príncipes pudessem preservá-lo
Os dez mil seres iriam por si próprios obedecer.

Essa imagem também nos revela Ken, A Montanha, em sua duplicidade fusionada:



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Ken, A Montanha, é a porta, o portão, o palácio.  Ken significa longevidade, vida longa, tanto em relação ao passado quanto em relação ao futuro.  Assim, a Montanha duplicada nos revela o Templo dos Ancestrais bem como o lugar propício para o sentar-se em silêncio, para a meditação.  Não podemos nos esquecer que a significação maior do Mestre encontra-se imajada através Ken, A Montanha.

O homem superior está sentado em silêncio, no alto da torre, do templo, da mais alta montanha, em meditação, em Contemplação, Kuan, das verdades do universo que se lhe apresentam.

Ao mesmo tempo em que o homem superior a tudo contempla, é também contemplado por todos e tudo que o rodeiam.

Assim é Kuan, Contemplação: contemplar e ser contemplado.  O Contemplar existe a partir do momento que se fala de uma Torre.  Sendo assim, o homem superior está ao alto dessa Torre e pode contemplar o mundo como um todo.  O Ser Contemplado existe a partir do momento que se fala de uma Torre que, em sendo alta, pode ser vista de longe, por todos aqueles que estão mais abaixo.  Tudo isso faz a fusão entre o Trigrama do Céu, em Ken, a Montanha, e o Trigrama da Terra, em K'un, a Terra.

É certo, porém, que a imagem da Torre, ou do Templo, é uma metáfora significando o posicionamento do homem superior diante do mundo e do mundo diante do homem superior. 

O homem superior é aquele que possui a consciência sendo iluminada e o homem inferior é aquele que ainda não possui a consciência sobre a iluminação da mesma ou está apenas em seus primeiros passos nesta longa jornada.

As duas Linhas Yang do Hexagrama - Linhas do rei e do sábio, quinta e sexta Linhas -, auxiliadas pela quarta Linha Yin - a Linha do ministro -, são as Linhas envolvidas no ato da Contemplação de cima para baixo.

As Linhas do Trigrama da Terra, em K’un, A Terra, O Povo, A Devoção, são as Linhas envolvidas no ato da Contemplação de baixo para cima.

K’un, A Terra, é a planície enquanto O Vento, Sun, rodopia nos céus.  K’un, A Terra, é a devoção, a obediência.  Sun, O Vento, é a Suavidade.  Devoção e Suavidade unem-se para contemplarem e serem contempladas. 

K'un, a Terra, possui movimento descendente e isso fica intensificado ao se posicionar no Trigrama da Terra.  Sun, o Vento, possui movimento ascendente porém Sun, a Madeira, possui movimento descendente, entranha-se na Terra, é a Árvore que cresce e cresce bem alto, em Kuan, Contemplação.


 


O Julgamento


K’un, o Povo, ergue seus olhos para os céus, pedindo proteção.  Sun, O Vento, em suas duas Linhas Yang, é encarregado de levar até aos céus as oferendas do Povo - sendo que a Linha Yin de Sun, o Vento, o lugar do ministro, é quem traz essas oferendas que são levadas ao céu através das Linhas do rei e do sábio, Linhas Yang.

No entanto, Ken, A Montanha, a Imobilidade, a Parada (e veremos mais à frente como Trigrama Nuclear Superior), faz com que os céus recebam apenas as intenções de tais oferendas.  Por outro lado, será também Ken, A Montanha, enquanto representante do Mestre, quem estará levando aos céus as oferendas e as intenções do Povo.  Sendo assim, o Mestre atua como o mediador entre o Povo e o Céu.

Dessa maneira, o I Ching nos diz, no Julgamento:  “Contemplação. A ablução já foi realizada, mas ainda não a oferenda. Confiantes, eles erguem o olhar para ele.”


 


A Imagem


Sun, O Vento, O Penetrante, a Suavidade,  vai a todos os lugares, rodopiando, subindo aos céus e descendo à terra. K’un, A Terra, O Povo, O Reino, é o próprio globo terrestre.

Em Kuan, contemplação, aquele que se situa no alto do Hexagrama, possui a sabedoria.  Possuindo a sabedoria, ele leva-a ao povo, transmite ao povo os ensinamentos obtidos através da Contemplação, Kuan.  Assim, a imagem da transmissão dos ensinamentos nos é trazida por Sun, O Vento, A Comunicação, e o povo das várias regiões do mundo, revela-se através de K’un, a Terra.

Por isso mesmo, o I Ching nos diz, na Imagem:  “O vento sopra sobre a terra: a imagem da Contemplação.  Assim, os reis da antiguidade visitavam as regiões do mundo, contemplavam o povo e o instruíam.”

Sun, O Vento, ouve tudo o que se passa sobre a Terra. A Terra, K’un, e Sun, O Vento, conversam todo o tempo, murmuram histórias e conhecimentos.  Esses conhecimentos são advindos de Ken, A Montanha duplicada e fusionada, inserida na imagem de Kuan, Contemplação.  Ken, a Montanha, é a representação do Mestre.  Também conhecemos Ken, a Montanha, enquanto a representação da longevidade, da vida longa: a montanha sabe de todas as histórias da Terra!

A contemplação dirige os olhares do homem superior para todos os lados, leva-o a sentar-se em seu silêncio, no alto de uma montanha, de uma torre, e um templo, e o faz enraizar-se como uma Árvore que cresce sobre a Terra (Sun, O Vento, A Madeira, sobre K’un, A Terra).

Ao sentar-se em seu silêncio, o homem superior traz o universo para diante de si.  E ao mesmo tempo em que se encontra em estado de contemplação, é também contemplado por todo o universo que o circunda.

O universo se contempla entre si.

Sun, o Vento, O Penetrante, nos ensina como devemos nos iniciar na meditação através da atenção colocada na respiração.  Nós somos K’un, A Terra, e a meditação são Ken, A Montanha, o sentar-se em silêncio, a Quietude.

A inspiração é o Vento, Sun, que entra dentro de nós.  K’un, A Terra, é a expiração, a exalação desse mesmo Vento.  É o movimento do fole.

O espaço entre o céu e a terra
Assemelha-se a um fole

É um vazio que não distorce
Seu movimento é a contínua criação.

Tao Te Ching, Capítulo 5, Lao Tsé


 


Trigramas e Hexagrama Nucleares


Os trigramas nucleares inseridos em Kuan, Contemplação, são Ken, A Montanha, A Quietude, e K’un, A Terra, A Devoção, O Povo, formando assim, o Hexagrama Nuclear Po, Desintegração.

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Kuan,                               Po,
Contemplação                 Desintegração


As imagens de Kuan, Contemplação, e Po, Desintegração, ambas, nos revelam a Torre, o Templo, sendo as Linhas Yin as duas colunas de sustentação.

A única Linha Yang em Po, Desintegração, Hexagrama Nuclear, é a quinta Linha, a Linha do rei e da consciência, em Kuan, Contemplação.  Tornando-se a sexta Linha, ela transforma o rei em sábio.

Por isso, o I Ching diz, no Julgamento: Confiantes, eles erguem o olhar para ele.

Todas as Linhas Yin são aquelas que vão indicar o Povo:  Confiantes, eles erguem o olhar para...

A única Linha Yang é aquela que vai indicar o rei sábio:  ele .

Novamente, poderemos ver as questões relacionadas em Kuan, Contemplação: contemplar e ser contemplado.  O rei sábio contempla o povo e o instrui e o povo ergue o olhar e contempla o rei sábio.

O rei sábio mantém-se em atitude de meditação, sentando-se em seu silêncio.  Ele sabe que o avanço das Linhas Yin é inexorável, em Kuan, Contemplação e em Po, Desintegração.  Ele sabe que a chegada do Vazio acontecerá em breve.  Sabemos todos que as Linhas do Hexagrama são sempre lidas de baixo para cima, e andam sempre galgando os degraus, de baixo para cima.

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Kuan,                              Po,
Contemplação                Desintegração


No Hexagrama Kuan, Contemplação, a quinta Linha, Linha Yang, é forte e segura, idealmente correta, e contempla o povo e o protege e ao mesmo  tempo é contemplado e protegido pelo povo.  Essa Linha Yang ainda conta com a sexta Linha, a Linha do sábio, também Yang, no sentido de manter acesa a Luz do Sublime Yang para alimentar a Devoção do Povo (em K’un, A Terra, O Povo, no Trigrama da Terra).

No entanto, a quinta e a sexta Linhas, o rei e o sábio, ambas governantes do Hexagrama Kuan, Contemplação, sabem que o avanço da Não-Luz do Sublime Yin, não tardará a chegar.  É Po, Desintegração, Hexagrama Nuclear, que lhes traz essa certeza.  Em Po, Desintegração, a Linha Yang do sábio, a sexta Linha idealmente incorreta, cai, cena de cena, restando apenas a Linha Yang do  rei, a consciência iluminadora do Povo.


No ciclo de eterna mutação da natureza, os Hexagramas Lin, Aproximação, e Fu, O Retorno, representam a imagem inversa de Kuan, Contemplação, e Po, Desintegração, respectivamente.



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Kuan,                          Lin,                                         Po,                              Fu, O Retorno
Contemplação              Aproximação                         Desintegração


Kuan, Contemplação, e Po, Desintegração, nos revelam o avanço das Linhas Yin, em sua elevação até formarem K’un, A Terra, o Receptivo, a Sublime Não-Luz do Vazio.

Assim, Kuan, Contemplação, nos ensina a termos uma visão mais holística, ampla e segura em relação às mutações da vida em Po, Desintegração.

Ambos os Hexagramas, original e nuclear, nos dizem que o momento supremo do Vazio do Sublime Yin está para chegar.  Assim como Lin, Aproximação e Fu, o Retorno, nos dizem que o momento supremo da Iluminação do Sublime Yang não tardará.


 



As Linhas


O Trigrama da Terra, em K’un, O Povo, a Devoção, nos revela, em suas Linhas, a Contemplação em seus momentos de amadurecimento.

O Trigrama do Céu, em Sun, O Vento, nos revela a Contemplação em sua Suavidade de visão ampla e em seu Penetrar profundo em relação aos conhecimentos da vida do espírito e da vida da terra.
Ao longo das Seis Linhas do Hexagrama Kuan, Contemplação, Ser Contemplado, serão apresentadas suas diferentes formas de realizar estas intenções:

A Primeira Linha as realiza de forma pueril;

a Segunda Linha de forma ainda acanhada;

a Terceira Linha sugere indecisão de ação;

a Quarta Linha realiza a contemplação de forma bem mais consciente dos que as Linhas anteriores;

a Quinta Linha busca aprofundar-se na contemplação de si mesmo e de suas ações - exatamente por estar na posição de Ser Contemplado;

e a Sexta Linha auxilia a Quinta Linha na ação de auto-contemplação - de forma que todos aqueles que exercem a Contemplação recebam suas dádivas.


 



Linha a Linha


No Capítulo 17 do Tao Te Ching, Lao Tse nos diz:

Do supremo, o inferior tem apenas ciência da existência
Do estado que o sucede, intimidade ou admiração
Do estado seguinte, temor ou desprezo
Não havendo suficiente confiança, surge a desconfiança

Quem valoriza a palavra, realiza a obra sem deixar rastros
Assim, o povo achará que surgiu por si, naturalmente.

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___ ___           A Primeira Linha


A Primeira Linha, Yin e idealmente incorreta, encontra-se ainda distante das duas Linhas Yang e por isso é infantil, pouco amadurecida.

Por isso, o I Ching sobre ela diz:  Contemplação pueril.  Para um homem inferior, nenhuma culpa.  Pra um homem superior, humilhação.



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___ ___           A Segunda Linha
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A segunda Linha dá início ao trigrama nuclear K’un, A Terra, que sustenta o trigrama nuclear superior, Ken, A Montanha, O Portão, A Porta.  A Terra veda a Porta fazendo com que a segunda Linha - vazada, Yin, porém idealmente correta - tenha acesso apenas a uma pequena brecha dessa porta fechada.  Dessa maneira, possui uma visão limitada dentro da Contemplação.

Sendo assim, o I Ching nos diz:  Contemplação através de uma brecha na porta.  Favorável à perseverança de uma mulher.

O emprego da palavra mulher advém, possivelmente, do fato de ser uma Linha vazada, Yin.  Também poderemos levar em conta que a Linha Yin, vazada, pertence à duração.  E a Linha Yang, contínua, pertence à constância.

Lao Tsé nos diz:  O céu é constante; a terra é duradoura.  Com isso, o Mestre quer nos dizer que o Tempo é uma Linha contínua, por isso pertencente à Constância, é uma Linha Yang.  E o Espaço é uma Linha vazada, por isso pertencente à Duração, é uma Linha Yin.  Sendo assim, existe a relação do Céu com o Tempo e a Linha Yang e a Constância; e existe a relação da Terra com o Espaço e a Linha Yin e à Duração.  Dentro da Constância, existe a imutabilidade plena, é o Tao; dentro da Duração, existe o eterno retorno, a lei da eterna mutação.




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___ ___           A Terceira Linha
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A terceira Linha é Yin e em lugar idealmente Yang.  Assim, se sente dividia em sua Contemplação, entre o progresso, o ir adiante, adentrando o Trigrama do Céu, ou o regresso, em voltar-se e unir-se às Linhas Yin anteriores, do Trigrama da Terra.  O progresso vai significar a ampliação da Contemplação, o olhar mais de perto.  O regresso significa a diminuição da Contemplação, um maior afastamento daquilo que é Contemplado e ao mesmo tempo, mantendo um também maior distanciamento daquele ou daquilo que Contempla.

Encontrando-se na base do trigrama nuclear Ken, A Montanha, sente-se voltada ao passado - assim como a Montanha guarda consigo toda a história do Planeta - e também se sente imobilizada, sem muitas forças para seguir adiante, por ser uma Linha Yin em lugar idealmente Yang, de ação e força para adentrar o Trigrama do Céu.

Sobre tudo isso, o I Ching nos diz:  A contemplação de minha vida decide entre o progresso ou retrocesso.






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___ ___           A Quarta Linha
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A quarta Linha nos apresenta uma Linha Yin e idealmente correta, sendo seguida por uma Linha Yang e idealmente correta.  A quarta Linha é a Linha do ministro e a quinta Linha é a Linha do rei - ambos já dentro do Trigrama do Céu.

Sendo assim, o I Ching nos diz:  Contemplação da luz do reino.  É favorável exercer influência como convidado de um rei.

Sendo uma Linha que se encontra na transição entre o Trigrama do Céu e o Trigrama da Terra, a Luz mencionada é a luz das duas Linhas Yang mais acima, o rei e o sábio; enquanto o reino em si pode ser visto através do Trigrama da Terra, K’un, o Reino, O Povo, A Terra.

A verdade é que vimos que a terceira Linha, finalizando o Trigrama da Terra, é uma Linha Yin e idealmente incorreta pois está em lugar idealmente Yang.  Sendo assim, a primeira Linha do Trigrama do Céu, em Sun, O Vento, ainda se vê ligada às Linhas anteriores do Hexagrama Kuan, Contemplação, pelo fato de também ser Yin.  Então, ela faz parte do reino, sim, do povo, mas por se encontrar já no começo do Trigrama do Céu pode exercer influência como convidada da quinta Linha, o rei.  E por isso mesmo, ela também já pode contemplar a luz do reino, como um todo, tanto no Trigrama do Céu, ao qual pertence - mesmo enquanto hóspede -, quanto no Trigrama da Terra.




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_______          A Quinta Linha
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A quinta Linha é central e correta; ascendeu através de todas as Linhas anteriores, trazendo assim a sabedoria do Povo aliada à sabedoria de sua posição atual, o lugar da consciência iluminada, o lugar do rei. Por isso, se encontra ao alto do Templo, ao alto da Montanha - como nos é mostrado no Hexagrama Nuclear, Po, Desintegração.

O rei, a consciência iluminada, é lúcido em relação à Contemplação de sua própria vida, podendo, dessa forma, ser contemplado pelo povo e ao mesmo tempo contemplar o povo, através de sua governança e de seus ensinamentos.

Por estar ainda muito próximo das Linhas anteriores, todas Yin, representantes do Povo, de K’un, a Terra, o Rei está volta-se para si mesmo, em profunda busca de seu auto-conhecimento, no sentido de bem se ajustar às expectativas do Povo sobre sua governança, de bem realizar seu  governo.

Por isso, o I Ching nos diz:  Contemplação de minha vida.  O homem superior está livre de culpas.

A quinta Linha é a governante do Hexagrama, juntamente com a sexta Linha.



_______          A Sexta Linha
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A sexta Linha  - Linha Yang e idealmente incorreta - é o sábio que alcançou a mais alta das montanhas, o lugar mais alto no templo, e assim pode Contemplar ao rei e ao povo, e fundamentalmente, as verdades da vida, do Céu e da Terra.  Ele já não mais contempla a si mesmo - como ainda faz a quinta Linha -, pois já está liberto do mundo e pronto para se retirar com sua Luz.   No entanto, ele auxilia a Quinta Linha, o lugar do Rei, em sua auto-contemplação e no aprofundamento de suas ações em relação à governança do reino, do povo.

Lao Tsé nos diz:
Concluir o nome, terminar a obra,
Retirar o corpo - este é o Caminho do Céu.

Tao Te Ching, Capítulo 9


Para a sexta Linha, o I Ching nos diz:  Contemplação da sua vida.  O homem superior está livre de culpas.

A sexta Linha é a governante do Hexagrama, junto com a quinta Linha.  Não é muito comum a sexta Linha ser a governante e menos ainda em forma idealmente incorreta, ou seja, uma Linha Yang em lugar idealmente Yin.  Porém, no caso da sexta Linha, a do sábio, é compreendido aquilo que Lao Tsé, o Mestre do Tao, nos ensina todo o tempo, em sua obra maior, o Tao Te Ching: a humildade sempre voltada para a renúncia de si mesmo.  Dessa maneira, o sábio sai do Hexagrama iluminado, sim, porém retorna em Linha Yin, novamente como criança, a primeira Linha, pueril, fazendo parte do povo, do reino, novamente tendo uma longa jornada a seguir adiante de si.

É por isso que Lao Tsé sempre nos diz:

Uma longa jornada começa debaixo dos pés.

Tao Te Ching, Capítulo 64.


COM UM ABRAÇO ESTRELADO,
Janine Milward


 



Síntese de Kuan, Contemplação


A Terra recebe o Vento,
formando Kuan, Contemplação


Em seu quarto encontro, K'un, A Terra, A Mãe, O Vazio, recebe Sun, O Vento, A Madeira, a Filha mais Velha, e ambas formam o Hexagrama Kuan, Contemplação

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___ ___           Trigrama do Céu em Sun, O Vento, A Madeira
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___ ___           Trigrama da Terra em K'un, A Terra



Tendo formado a Montanha e a Água, entra em cena O Vento, A Madeira, simbolizados por Sun, a Filha mais Velha. Dessa forma, o Planeta está totalmente pronto, materializado, encarnado, para receber a integração plena entre A Terra e O Céu.... O Filho mais Jovem, A Montanha, o Filho do Meio, A Água, e a Filha mais Velha formam a estrutura primeira do Planeta.

A Torre, ou o Templo, é um lugar onde se preserva o Caminho, o Tao.  A imagem de Kuan, Contemplação, é a de uma torre ou um templo.  O desenho das Linhas de Sun, o Vento, com suas duas Linhas Yang ao alto, forma o alto da torre ou do templo, e a Linha Yin une-se com as outras Linhas Yin pertencentes a K'un, a Terra, a Devoção, o Povo.

Lao Tse, em seu Capítulo 32 do Tao Te Ching, nos diz:

Se reis e príncipes pudessem preserva-lo
Os dez mil seres iriam por si próprios obedecer

Este Hexagrama nos apresenta o homem superior sentado em seu silêncio, no alto da torre, do templo, em meditação, em Contemplação às verdades do universo que se lhe apresentam.

Ao mesmo tempo, está sendo contemplado por todos e por tudo o que o rodeia.

Assim, em Kuan, temos a Contemplação e o Ser Contemplado.

As Linhas que realizam a Contemplação de alto para baixo, da Corte para o Povo, são as Quinta e Sexta Linhas, as Linhas do Rei e do Sábio, as únicas Linhas Yang do Hexagrama - e por todas estas razões, serão as duas Linhas Governantes do Hexagrama.

Vemos, portanto, que existe uma imperatividade da ação do Trigrama do Céu em relação ao Trigrama da Terra e por isso, o I Ching diz, no Texto da Imagem:  Assim os reis da antiguidade visitavam as regiões do mundo, contemplavam o povo e o instruíam.

Os dois Trigramas Nucleares inseridos em Kuan, Contemplação, são Ken, a Montanha, a Imobilidade, o Mestre, no Trigrama Superior e K'un, a Terra, o Povo, no Trigrama Inferior.  Como a Linha Yang do cume da Montanha, Trigrama Nuclear Superior, é também a Quinta Linha, a Governante-mór, do Hexagrama, é possibilitado ao Rei, à consciência iluminada, a contemplação ampla de sua própria vida, sem culpas. 

No entanto, se virmos a inserção do Hexagrama Nuclear Po, Desintegração, esta Linha culminante de Ken, a Montanha, e atuante enquanto Linha Governante-mór do Hexagrama Kuan, Contemplação, a Linha do Rei, é importante que o Rei mantenha a contemplação de sua própria vida em função de estar sempre atuante em seu reinado para com a corte e para com o povo, isento de má condução do mesmo. (não podemos nos esquecer que também esta Linha, a Quinta Linha de Kuan, Contemplação, bem como a Sexta Linha, são Lugares que contemplam, sim, de cima para baixo, mas que também são contemplados de baixo para cima, ou seja, também o Povo e a Corte contemplam o Rei e o Sábio). 

E é preciso que também vejamos a Linha do Sábio, Governante do Hexagrama Kuan, Contemplação, que é uma Linha Yang e que dá continuidade à Contemplação exercida pelo Rei e que, por esta razão, não pode deixar de se envolver com os assuntos do Rei, diretamente, como da corte e do povo - mesmo que esta Sexta Linha não mais pertença ao Trigrama Nuclear Superior, Ken, o Mestre, a Montanha, e menos ainda ao Hexagrama Po, Desintegração.

COM UM ABRAÇO ESTRELADO,
Janine Milward




Tao Te Ching, O Livro do Caminho e da Virtude – Lao Tsé
Tradução de Wu Jyh Cherng – Editora Ursa Maior. SP

O I Ching, O Livro das Mutações
Tradução do chinês para o alemão, introdução e comentários de Richard Wilhelm
Tradução para o português de Alayde Mutzenbecher e Gustavo Alberto Correa Pinto
Editora Pensamento – São Paulo, Brasil

I Ching, Alquimia dos Números
Wu Jyh Cherng
Editora Objetiva - Rio, Brasil



O Fio da Meada


 I Ching do Caminho do Céu

Janine Milward

Direitos Reservados © 1997
Registro 142.090 Livro 230 Folha 433
Segunda Edição Revisada